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  • Nutricionista: Paulina Ribeiro

Alimentação e Qualidade de Vida dos Idosos


A Organização Mundial de Saúde descreve a qualidade de vida associada ao envelhecimento como um “conceito amplo e subjetivo que inclui de forma complexa a saúde física da pessoa, o seu estado psicológico, o nível de independência, as relações sociais, as crenças e convicções pessoais e a sua relação com aspetos importantes do meio ambiente”.

Deste modo, entende-se que a qualidade de vida não se traduz unicamente por ausência de doença mas também pela manutenção da independência, da mobilidade, das funções cognitivas, de um estado psicológico adequado, das relações sociais e das redes de apoio.

A alimentação e a nutrição, entre outros fatores ambientais, têm um enorme impacto na saúde e bem-estar, condicionando a qualidade de vida dos idosos. Na pessoa idosa, um estado nutricional inadequado contribui de forma significativa para o aumento da incapacidade física, da morbilidade e da mortalidade, agrava o prognóstico das pessoas idosas com doenças agudas e aumenta o recurso à hospitalização e institucionalização, condicionando a qualidade de vida.

A malnutrição pode ser consequência de um excesso, défice ou desequilibro de nutrientes e energia, que pode agravar o estado nutricional das pessoas idosas.

Fisiologicamente, com o avançar da idade, há uma diminuição dos mecanismos de ingestão, digestão, absorção, transporte e excreção de substâncias, o que se exprime em necessidades nutricionais especificas nesta fase da vida. As necessidades energéticas poderão eventualmente diminuir, devido a uma eventual diminuição da actividade física e da consequente perda de massa muscular. No entanto, grande parte das necessidades em micronutrientes (vitaminas e minerais) mantêm-se inalteradas ou podem mesmo aumentar, tornando-se fundamental a elaboração cuidada e personalizada de um plano alimentar, de forma a assegurar uma ingestão energética adequada para suprir as necessidades em micronutrientes e para manter um peso corporal adequado.

Podem ainda surgir outras limitações que levam à ingestão alimentar e ao estado nutricional inadequados, tais como:

  • Problemas de mastigação: alterações nas gengivas e dentes, e utilização de próteses dentárias não ajustadas, podem conduzir à diminuição ou exclusão da ingestão de certos alimentos, levando a que alguns alimentos mais rijos (fruta, carne, vegetais crus) sejam substituídos por alimentos moles (pudins, gelatina, bolos, gelados). Os alimentos mais duros deverão ser bem cozinhados, cortados em pequenos pedaços ou reduzidos a puré, quando necessário;

  • Problemas de deglutição: podem ser causados pela produção insuficiente de saliva e consequente secura da boca, levando a que seja mais difícil mastigar e engolir. Por essa razão é aconselhável acompanhar a refeição com pequenos goles de água;

  • Perda ou diminuição de capacidades sensoriais: alterações no paladar e no olfacto podem condicionar o sabor dos alimentos e fazer com que o idoso utilize grandes quantidades de sal, açúcar, gordura e condimentos para tornar a comida “mais saborosa”. Cozinhar com ervas aromáticas e especiarias é uma alternativa mais saudável para tornar a refeição mais agradável;

  • Diminuição da coordenação muscular: dificulta a manipulação dos utensílios de cozinha e o próprio acto de comer. Utilizar pratos fundos ou tigelas, em vez do prato raso, e a colher, em vez do garfo, facilitam a tarefa de se alimentarem;

  • Desidratação: pode ocorrer devido à diminuição da sensação de sede, levando à ingestão insuficiente de água, ou por aumento das perdas de líquidos (infecção, demência, diuréticos). Devem beber água ou chá, sem adição de açúcar, mesmo sem terem sede, de forma a evitar a desidratação;

  • Medicamentos: com o aumento da idade é frequente a polimedicação. Os medicamentos podem interferir no estado nutricional por vários mecanismos relacionados com a absorção, metabolismo e excreção de diversos nutrientes, sendo de extrema importância ter em atenção as possíveis interacções fármaco-fármaco, fármaco-alimento, fármaco-estado nutricional;

  • Condições económicas desfavoráveis: contribuem para a redução dos alimentos comprados, o que em alguns casos leva a escolhas alimentares pouco variadas e nem sempre correctas, contribuindo para uma alimentação desequilibrada;

  • A solidão: gera muitas vezes estados depressivos e leva a que o idoso se desinteresse pela preparação das refeições, ocasionando grandes intervalos sem comer;

  • As doenças associadas à idade: como a obesidade, diabetes, problemas cardiovasculares, doenças osteoarticulares, cancro, dificuldades respiratórias, etc., também limitam a escolha e a preparação dos alimentos.

Existem evidências de que o risco de muitas patologias associadas ao envelhecimento pode ser reduzido através de uma intervenção adequada ao nível dos estilos de vida, nomeadamente da alimentação/nutrição e da actividade física.

O envolvimento e a participação ativa dos idosos no processo de mudança dos estilos de vida são essenciais, uma vez que as pessoas idosas constituem um grupo bastante heterogéneo e a sua capacidade de tomada de decisão individual tem um papel fundamental quando está em causa a aceitação de mudanças. Por outro lado, os factores sociais e económicos são determinantes para a satisfação com a vida e consequentemente para a adequação do comportamento alimentar/nutricional. Promover pretextos para um maior convívio em torno da mesa e de refeições nutricionalmente adequadas, em ambiente agradável, pela promoção de sentimentos de pertença a um grupo ou comunidade, parece ser melhor estratégia para promover um estado nutricional adequado dos idosos, e consequentemente, da sua qualidade de vida. Encontra-se relatado que idosos que fazem as suas refeições na companhia de amigos e familiares têm melhor qualidade de vida e são mais felizes.

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